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21 de maio de 2017

Reverter a auto-imune, além da alimentação

Alimentação versus estilo de vida

Quando seguimos o Protocolo Paleo Auto-imune, a alimentação está sempre presente na nossa mente. Evitamos os alimentos que exacerbam a sintomatologia da doença auto-imune e investimos o nosso tempo a procurar mais informação sobre quais os melhores alimentos a integrar nesta nova rotina. Por outro lado, estamos ansiosos para o dia em que podemos voltar a reintroduzir os alimentos que eliminámos temporariamente, esperando não fazer nenhum tipo de reação adversa. Nutrirmo-nos dos alimentos correctos, faz toda a diferença, mas a regressão da sintomatologia da doença auto-imune vai muito além da alimentação. O estilo de vida que levamos, é igualmente importante e muitas vezes é descurado em detrimento da falta de tempo, da falta de investimento pessoal, ou por outra razão qualquer. De nada serve ter um cuidado extremo com a qualidade daquilo que comemos, e em paralelo levar uma vida stressante. Se por um lado, a alimentação correcta cura, o estilo de vida que levamos pode por outro lado, exacerbar toda a sintomatologia.

Sono

Temos o péssimo hábito de deixar o sono para último plano. Ficamos acordados até tarde a despachar tudo para o dia seguinte, ou a ver um filme até ao fim (o meu caso). Ou então levantamo-nos mais cedo de forma a "fazer render" o dia. Se faz parte deste tipo de pessoas, saiba que não há nada mais importante para o seu corpo do que o sono, pois é durante o sono que o seu corpo se regenera. É fácil de fazer as contas, quanto menos dormir, menos tempo o seu corpo tem para se curar. Pode parecer que ao fim de 1 ou 2 noites bem dormidas (aos fins de semana por exemplo), que finalmente tem o seu sono em dia, mas não é bem assim. São necessárias semanas até que o seu corpo se reequilibre interiormente e de forma consistente.

A falta de sono, a médio e longo prazo, por si só, já contribui para uma quantidade de sintomas: perturbações da visão, fadiga, irritabilidade, aumento de peso e perturbações na concentração. Posteriormente pode levar a enfarte do miocárdio. A falta de sono, adicionada ao stress pode levar a alterações metabólicas profundas e intensificar a sintomatologia das auto-imunes. O ideal será sempre dormir entre 8 a 10 horas. Parece muito, mas lembre-se que o seu corpo já está em deficit pela auto-imune, por essa razão há que o compensar. Pessoalmente noto que à medida que o tempo passa (já lá vão cerca de 2 meses de protocolo) que vou adormecendo cada vez mais cedo. E ao contrário do que acontecia há uns tempos em que sentia sono, mas "tinha" que ver o resto do filme, agora faço a vontade ao meu corpo.


Respeitar os ritmos circadianos



Na vida moderna, é fácil esquecer que os seres humanos evoluíram para viver ao ar livre. Nós somos projectados para absorver vitamina D da luz solar, e sua deficiência está associada a muitas doenças, incluindo auto-imunidade. Os nossos ritmos circadianos são definidos pelo ciclo natural do dia e da noite e afectam nosso corpo a nível genético e celular. Estamos destinados a mover nossos corpos para fora de casa durante o dia, e dormir profundamente na escuridão da noite.

A vida moderna muitas vezes nos faz fazer o oposto, sentado todo o dia dentro de casa e, como consequência há maior dificuldade em dormir à noite. E quem sofre com isso é a nossa saúde. Faça os possíveis para sair de casa todos os dias, mesmo que seja por pouco tempo. Pode dar um passeio, deitar-se ao sol, ler na sombra, passear o cão, e pode até criar grupos de passeio, o importante é apanhar ar e luz do dia. Lembre-se que há um mundo lá fora que deve ser aproveitado. É das poucas coisas de que sinto falta de Portugal, é mesmo da luz solar. Onde moro (Luxemburgo), estamos dias e dias seguidos sem ver o sol, e acreditem que deprime!

Aprenda a dizer não

Sejamos honestos: curar leva tempo. Não apenas em termos de paciência e foco naquilo que nos é benéfico, mas sobretudo nas actividades do dia a dia: tratar das crianças, confeccionar as refeições, trabalhar, actividades relaxantes, desporto...Isto exige que se coloque em primeiro lugar. Dito assim pode parecer egoísta, sobretudo se tem uma família que precisa e depende de si. Mas são pequenas decisões que se tomam, que são absolutamente necessárias. Se você não estiver bem, também se vai reflectir na sua família e naqueles que a/o rodeiam.

Priorizar a sua saúde beneficia a todos. Então como arranjar tempo para si, durante o dia já tão preenchido? Aprendendo a dizer não! Olhe à sua volta e elimine as tarefas que não são essenciais para o dia, ou delegue, peça ajuda a quem está próximo de si. Felizmente não tenho razões de queixa pois quem me rodeia, está sempre pronto a ajudar e mesmo que eu, por teimosia ou orgulho queira fazer tudo sozinha, a filha insiste sempre em querer participar e ainda ralha comigo se me vê a fazer esforços sem pedir ajuda. Na maior parte dos casos, até querem ajudar e não sabem como, e só porque nos habituámos a tomar tudo à nossa responsabilidade.

Aprenda a valorizar o seu corpo

Numa doença auto-imune, é sabido que o nosso corpo nos trai, que nos ataca e que se tornou nosso inimigo... Isso simplesmente não é verdade. O objectivo do corpo é manter-nos vivos e saudáveis, e faz tudo o que estiver ao seu alcance para fazê-lo. Os sintomas que sentimos são sua forma de nos dizer que algo está errado, e a auto-imunidade é uma falha de comunicação" dentro do corpo, não uma luta intencional. Se queremos curar, é muito mais eficaz perceber que pertencemos à mesa equipa. Não podemos viver sem ele. Quando ficamos com raiva, culpamos e odiamos nosso corpo, na verdade estamos nos odiando. Isso não é uma postura de cura e muitas vezes leva a más escolhas. Em vez disso, cultive a sua auto-estima, aprenda a amar e respeitar o seu corpo. Se seu filho estiver doente, também não se vai virar contra ele, pois não? Faz tudo o que estiver ao seu alcance para que recupere o mais rapidamente possível, certo? Então porque não ter a mesma atitude para com o seu corpo, o SEU bem mais precioso?

Dia desconectado

Este ficou para o fim, para lhe dar a hipótese de desligar o computador ou sair do telemóvel, assim que terminar este artigo. Apercebe-se que os seus níveis de atenção andam desequilibrados ultimamente? Que você não consegue ficar sossegado, que lhe falta o foco, se sente constantemente ansioso, e é facilmente irritável? Estes são todos efeitos directos do uso intermitente constante do computador ao longo do dia e da noite. Isso inclui smartphones, tablets e portáteis. Usamo-los constantemente em pequenos fragmentos de tempo a cada poucos minutos ao longo do dia. Em parte, é a luz azul que emitem à noite a mais estimulante para nossos cérebros e corpos. Experimente estar 24 horas sem estar conectado, aproveitando os fins de semana para isso. Não nos damos conta, mas a verdade é que sofremos todos de alguma compulsão e daí sentirmos uma necessidade premente de estarmos constantemente a consultar o telemóvel, mesmo que saibamos que não haverá nada de novo. Tente desabituar-se aos poucos, comece por desligar-se inicialmente durante 8 horas e vá aumentando gradualmente esse tempo. À medida que as horas passam, essas compulsões passam também, e gradualmente começa a instalar-se um relaxamento mais profundo. Esse sentimento de paz é incrivelmente curativo, e é intrigante perceber que há apenas algumas décadas, num passado sem computador, era como nos sentíamos assim a maior parte do tempo.

Sei que é mais fácil dizer do que fazer, mas pense nisto como parte integrante do tratamento. Se tiver que sair todos os dias para ir a consultas, fisioterapia ou ginásio, tem de encontrar tempo para o fazer. Então porque não começar já, antes que seja tarde demais? 😊

Fontes:

          

19 de maio de 2017

Protocolo paleo Auto-imune...porque não entram frutos secos nem sementes

Quando se trata de entender os fundamentos por trás das restrições extras do protocolo auto-imune, geralmente é fácil perceber a ligação entre certos alimentos e aumento da permeabilidade intestinal e/ou ou interacção com o sistema imunitário. No caso dos frutos secos e sementes, no entanto, é realmente muito mais difícil fazer a mesma ligação para validar a sua remoção da dieta em doentes auto-imunes.

Existem muitos livros e sites que mencionam todos frutos secos e sementes como alimentos a evitar no Protocolo paleo auto-imune (por exemplo, "The Paleo Solution", "It starts with food" e "Practical Paleo"). No entanto, parece não haver consenso nem fundamentos científicos para comprovar essa teoria.


Não é pelas lectinas. Como já foi mencionado, as lectinas são proteínas que se ligam aos hidratos, universalmente presentes em plantas e animais. Tal como protegem as espécies de plantas de predadores, as lectinas também desenvolvem outras funções imunológicas nas plantas e animais, contra agentes patogénicos, parasitas, etc. Quase todos os alimentos contém lectinas e este facto por si só não é suficiente para evitar comer algo (caso contrário, não se comia nada!). As lectinas que evitamos comer numa dieta paleo são lectinas como o glúten (e lectinas presentes em grãos e leguminosas) que são conhecidas por sobreviver a altas temperaturas, serem mal digeridas, interagirem com as células que alinham o intestino, aumentam a permeabilidade intestinal e/ou atravessam a barreira intestinal em grande parte intacta onde podem estimular o sistema imunológico. Até à data, não há nenhuma evidência científica de que as lectinas em nozes e sementes atravessam uma barreira intestinal intacta ou estimule o sistema imunológico.

Não é pelo ácido fítico. Os frutos secos são relativamente ricos em fitatos, que são derivados do ácido fítico, isto é, é ácido fítico ligado a um mineral. Estes minerais não estão disponíveis na absorção, razão pela qual consumir grande quantidade de alimentos ricos em ácido fítico e/ou fitatos não seja uma boa ideia porque leva a uma deficiência mineral. Apesar dos herbívoros como as vacas e ovelhas serem capazes de digerir o ácido fítico, os seres humanos não possuem essa capacidade. Os minerais encontrados nos frutos secos são uma boa razão para limitar o seu consumo numa dieta equilibrada, uma vez que inibe de forma severa a absorção de minerais nos adultos, especialmente ferro e zinco. O consumo excessivo de ácido fítico/fitato pode irritar o revestimento do intestino e contribuir para um intestino permeável, reduzindo a actividade de uma variedade de enzimas digestivas, incluindo tripsina, pepsina, amilase e glucosidase. No entanto, o fitato também pode ser um importante antioxidante e ajudar a reduzir os factores de risco cardiovascular e risco de desenvolver cancro quando consumido em quantidades moderadas. A quantidade é que importa aqui. Mas, este é um argumento para limitar o consumo de frutos secos, não eliminá-los completamente da nossa dieta.

Não é sobre o ómega-6. Frutos secos tendem a ter muito mais gorduras poliinsaturadas ómega-6 do que gorduras poliinsaturadas ómega-3. Assim, quando um dos principais objectivos numa dieta paleo é normalizar a proporção de ómega-3/ómega-6 na ingestão de ácidos graxos, comer grandes quantidades de frutos secos não é lá grande ideia. Com o objectivo de reduzir a inflamação em doentes auto-imunes, o aumento da quantidade de ácidos graxos ómega-3 (e simultaneamente diminuir os ácidos graxos ómega-6) na dieta é fundamental. Mesmo nozes, que têm o maior teor de ómega-3 de todas os frutos secos, têm uma proporção 1: 3 de ómega-3 a ómega-6, e estas gorduras ómega-3 são as gorduras de ALA de cadeia curta que não são tão facilmente utilizados pelo corpo como as de cadeia mais longa como DHA e EPA que são encontrados em frutos do mar e carne de animais alimentados a pasto. Nozes de macadâmia são uma excepção uma vez que a maior proporção da sua gordura é monosaturada. No entanto, numa dieta rica em peixe e carne de pasto, pequenas quantidades de nozes que sejam consumidos com consciência, não deve ser um problema.

Então, por que razão os frutos secos estão fora do protocolo paleo auto-imune? Na verdade, não estão. Duas opiniões proeminentes são as do Prof. Loren Cordain, autor de "The Paleo Diet" e "The Paleo Answer", e da Dra. Terry Wahl, autora de "Food As Medicine" e "Minding My Mitocondria".. Loren Cordain recomenda a sua remoção em indivíduos com doença auto-imune, com a seguinte advertência: "Além de amendoim, que não é um fruto seco, mas sim uma leguminosa, nozes (amêndoas, nozes, pecans, castanhas do Brasil, etc) são um dos alimentos alergénicos mais comuns. Até à data, os frutos de casca rija foram mal estudados quanto ao teor de anti-nutrientes, e não está claro se aumentam a permeabilidade intestinal e de afectar negativamente o sistema imunitário. Este seria um dos últimos alimentos que eu sugiro restringir [para aqueles com doença auto-imune]." Já a Dra. Terry Wahl, limita o consumo de frutos secos e leguminosas germinadas completamente cozidas, mas não os elimina totalmente.

Assim, tudo se resume a dois factos simples. Os frutos secos são um dos alérgenos mais comuns. Pessoas com doença auto-imune são muito susceptíveis de ter um intestino permeável, o que aumenta a sua propensão natural para o desenvolvimento de alergias e sensibilidades alimentares (a diferença está no tipo de anticorpo formado). Isto significa que as pessoas com doença auto-imune são mais propensas a ter uma sensibilidade ou alergia a nozes, frutos secos (e sementes) do que outras pessoas. E eliminar o seu consumo durante a fase inicial do protocolo auto-imune, é uma boa forma de perceber se de facto tem ou não alguma sensibilidade aos frutos secos. Se continua a ingerir algo ao qual tem uma alergia ou sensibilidade, é muito difícil para o seu intestino para se curar e para desactivar o seu sistema imunológico. Além disso, a fibra presente em nozes e sementes pode ser difícil de digerir, especialmente amêndoas, pistáchios e avelãs, o que ainda potencia a eventual sensibilidade.

Segundo Sarah Ballantyne, autora do protocolo paleo auto-imune, é importante eliminar o seu consumo sobretudo na primeira fase do protocolo. No entanto, ao contrário de tomates ou claras de ovo, que têm uma maior probabilidade de virem a ser problemáticos, a reintrodução de frutos secos e sementes não deve alterar a sua reação imunológica a não ser que tenha uma sensibilidade específica às mesmas.

Fonte: https://www.thepaleomom.com/the-whys-behind-the-autoimmune-protocol-nuts-and-seeds/

18 de maio de 2017

Protocolo Paleo Auto-imune...os argumentos

Embora possa parecer que o protocolo auto-imune seja meramente uma dieta de eliminação, há mais além de simplesmente evitar determinados alimentos. Na verdade, ignorar a importância da densidade de nutrientes é um dos maiores obstáculos ao sucesso quando as pessoas adoptam o protocolo. Embora haja um grande foco na eliminação de grãos, feijões, lacticínios, nozes, sementes e nightshades fora da dieta, é igualmente importante adicionar alimentos nutricionalmente densos - estes alimentos são particularmente ricos em vitaminas, minerais e fitonutrientes e absolutamente necessários para curar o corpo de uma vida a ingerir alimentos vazios. Ignorar a importância destes alimentos, é condenar o efeito do protocolo ao fracasso.

Regenerar o seu organismo não passa por consumir um monte de peito de frango com brócolos e óleo de coco. É preciso sair da zona de conforto e incluir alimentos nutritivos e curativos, em vez de pensar neles como componente simples para uma refeição. Certifique-se de incluir alimentos de órgãos, como fígado e rim, peixes ricos em ómega-3 e mariscos, algas marinhas, alimentos fermentados e muitas frutas e vegetais coloridos. Se já olhou para a lista dos alimentos permitidos e recomendados e pensou "Eu não costumo comer nada disso", então vai ter algum trabalhinho pela frente!

Aqui está uma lista de alguns dos nutrientes importantes a priorizar no Protocolo Auto-imune. Esta lista não é de forma imperativa, mas sendo estes nutrientes mais difíceis de obter através de uma alimentação normal, são de particular importância para a cura da auto-imunidade.


Vitamina A - Fígado e óleo de fígado de peixe (pelo retinol, que é a vitamina A pré-formada e a mais biodisponível), vegetais amarelos e alaranjados (pelo beta-caroteno, que é um precursor da vitamina A). É importante não se fiar no beta-caroteno como única fonte de vitamina A, uma vez que a maioria das pessoas faz uma conversão deficitária de beta-caroteno para vitamina A.


Vitamina D - Fígado e óleo de fígado de peixe, peixes gordos e exposição (consciente) à luz solar.

Ácidos graxos ómega-3 - Peixes gordos e óleo de fígado de peixe (melhor fonte), carnes de órgãos e carnes de pasto.

Vitamina B - Carne e frutos do mar (especialmente mariscos e órgãos carnes), legumes coloridos, algas marinhas.

Ferro - Carnes de órgãos, mariscos e carnes vermelhas como carne de vaca ou cordeiro.

Zinco - Marisco, carnes de órgãos, carnes musculosas, vegetais de folhas verdes.

Selénio - Peixe e marisco (melhor fonte), órgão carnes, carnes densas.

Iodo - Peixe, marisco, algas (com prudência em presença de Tiroidite de Hashimoto).

Probióticos - legumes fermentados, kombucha, kefir de água.

É importante referir impacto da qualidade dos alimentos na densidade de nutrientes, especialmente no que se refere ao equilíbrio das gorduras ómega-3 e 6 nas carnes de órgãos e musculosas. Animais alimentados com milho e soja têm mais gorduras ómega-6, que pode pender o equilíbrio para ser pró-inflamatório. Por outro lado, a carne alimentada a pasto tem uma proporção muito mais equilibrada de gorduras ómega-3 e 6. Se o seu orçamento não lhe permite tanto o consumo deste tipo de carnes, tem de compensar na ingestão de frutas e legumes.

Então, a próxima pergunta pode ser "que quantidade desses alimentos devo comer?" Sarah Ballantyne recomenda no seu livro, "The Paleo Approach" que se coma miudezas 4-5 vezes por semana, frutos do mar pelo menos 3 vezes por semana, e que se preencha as restantes necessidades de proteína maioritariamente com carnes alimentadas a pasto, ou aves do campo. Adicione diariamente alguns alimentos probióticos, caldo de ossos, e terá facilmente atingido os limites adequados de nutrientes diários.

Como fazer para aumentar a ingestão de alimentos nutricionalmente ricos? Usando o caldo de ossos diariamente ao cozinhar sopas / guisados, comendo várias vezes por semana peixes ricos em ómega-3 (o que aqui nem sempre é fácil), e sobretudo através de sopas feitas com legumes variados às 3 principais refeições (se comer sopa a todas as refeições, juntando aos legumes e/ou salada do segundo prato, rapidamente chega às 6 porções diárias).

Eu já disse isso antes, e vou dizer de novo - eu notei uma grande diferença na minha saúde quando comecei a levar a densidade de nutrientes mais a sério. Se tem seguido o protocolo auto-imune há algum tempo e sente que é hora de levá-lo para o próximo nível, espero que este artigo lhe dê a coragem de sair de sua zona de conforto e ir para olhar de forma diferente para esses alimentos ricos em nutrientes, mesmo que isso signifique comer alimentos menos atractivos ao seu paladar!

9 de maio de 2017

Protocolo Paleo Auto-imune...porquê?

Fui diagnosticada com Fibromialgia em 2015. Foi um misto de alívio, de surpresa e ao mesmo tempo de desencanto.  Alívio porque finalmente podia dar um nome, um "rosto" a todos os sintomas que sentia (aqui)(aqui) e (aqui), de surpresa porque nunca pensei ter uma doença crónica (achava que o que sentia teria solução, não sabia bem como, mas pronto) e de desencanto por ter consciência do que aquilo que sentia, seria para o resto da minha vida, todos os dias...

Passei por aquela fase em que se pensa que, tomando as drogas recomendadas, que seria possível controlar a coisa, só que não foi bem assim. Ao fim de 2 semanas de Cymbalta e 2 noites de Lyrica, desisti porque além de não me aliviar em nada, ainda tinha que gerir os sintomas provocados pelas drogas. Isto de andar de óculos de sol em casa e com tampões nos ouvidos, não me parecia de todo normal. Mantive no entanto o analgésico à base de tramadol, que tomava todos os dias e em crise, 2 ou 3.

Entretanto falaram-me da alimentação paleo (aqui) e se inicialmente me mostrei muitíssimo renitente, quando me senti chegar ao fundo do poço, resolvi tentar só mesmo naquela de "ah e tal, não tenho nada a perder!" A verdade é que ao fim de cerca de duas semanas, acordei sem dores e a partir dali a minha qualidade de vida mudou drasticamente para melhor.

Pelo meio começaram a intensificar-se as securas da boca e dos olhos. A primeira coisa que tinha que fazer assim que abria os olhos, e ainda hoje é assim, era ir lavar logo a cara e sobretudo os olhos com água fria porque a sensação é de ácido nos olhos. Intensificou-se também a sensibilidade à luz e comecei a sentir a pele em todo o corpo a secar intensamente, mesmo continuando a beber água e a usar cremes hidratantes. Veio então a confirmação de diagnóstico de Síndroma de Sjogren. Nunca tinha ouvido falar mas depois de pesquisar, percebi que era uma doença auto-imune e bastante frequente de acontecer em paralelo com a Fibro. Ora já não bastava a primeira, e chega uma segunda...!



Com a paleo os sintomas estavam controlados. Tinha dores volta e meia e as crises eram perfeitamente toleráveis, caracterizando-se principalmente pela fadiga mais presente, mas consegui sempre passar "entre as gostas da chuva" e não ser necessário recorrer à medicação.


Cerca de 2 meses depois de ter iniciado paleo, e depois de ter lido sobre do que se tratava, fiz um Whole 30 (ver aqui), do qual não tirei conclusão nenhuma, pois na reintrodução dos alimentos, não consegui perceber quais os que provocavam alterações no meu organismo. Percebi aí que o meu corpo é meu e não funciona como os outros. Apesar da moderadora do grupo praticar e recomendar paleo low-carb indo mesmo até uma cetogénica para toda a gente, como se fosse a 8ª maravilha, a verdade é que entrando em cetose, o meu corpo reagiu de forma violenta (aumento intenso da sintomatologia da Sjogren) que só melhorou quando passei a ingerir mais fruta e raízes. Pelo meio também, iniciei os jejuns naturais e nunca forçados. A maior parte das pessoas sente logo falta de apetite ao fim de poucos dias, mas aqui euzinha não, acordo quase sempre com fome de gente. Nos dias em que acordava sem fome (poucos) aproveitava e fazia jejum. E quando o fazia, sentia-me bem, até sentia mais acuidade a nível mental e física.


Mas há cerca de uns 3 ou 4 meses (perco noção do tempo), os sintomas da Sjogren intensificaram-se, comecei a sentir uma secura extremamente intensa na boca e olhos e até na vagina. A secura na boca era tão intensa que de um momento para o outro, sentia a boca secar até à faringe, impedindo-me até de falar. E não, não era falta de água. Bebo regularmente 1l/1.5l de água por dia, porque gosto e porque me sabe bem, mas não posso beber muito mais, devido ao problema da secura das mucosas. Quanto mais água bebo, mais urino e mais atrito sinto na mucosa vaginal depois das idas ao wc.

Nessa altura retirei os lacticínios e os primeiros dias foram de ressaca absoluta. Nem eu fazia ideia de quão intoxicada eu estava. Tinha constantemente fome e nada me satisfazia, mas ao fim do 3º ou º dia, a coisa acalmou. E acalmaram também as securas e finalmente conseguia dormir normalmente e os dias decorriam também sem grandes alterações.

Ao fim de algum tempo (1 ou 2 meses depois) e depois de ter feito jejum 3 dias seguidos (jejuns naturais e sem esforço), percebi que qualquer coisa estava errada. Acordei inchadíssima (rosto e corpo), a dores tinham voltado numa intensidade absurda (como nos velhos tempos) e a fadiga extrema tinha-se instalado. Não conseguia perceber o que se estava a passar porque ainda por cima, tinha engordado 3kgs...com jejum! 

Como não sou de me dar por derrotada, decidi pesquisar e só aí percebi que auto-imune e jejum não funcionam. Já tinha lido artigos sobre o protocolo para auto-imunes mas quando chegava à parte de não comer ovos, nem frutos secos, ou tomate, deixava de ler, lol. Depois também percebi que auto-imunes também não combinam com low-carb. Mas só percebi isso depois de ter lido os artigos até ao fim.

Comecei a ler mais e a perceber que tinha que fazer alguma coisa. Sempre disse que um dia, se visse necessidade disso, que recorreria ao protocolo para auto-imunes (ler aqui). Mas é mais fácil dizer do que fazer. E a verdade é que me sentia tão mal, que decidi no momento iniciar o protocolo. Tanto que nem me lembro há quanto tempo comecei, mas nesta altura, penso que foi à cerca de 1 mês.

Se foi fácil? Nope...sobretudo aos pequenos-almoços. Nunca fui muito de panquecas e afins mas, no meio de tudo o que se deixa de consumir, do que sinto mais falta é dos ovos...os ovos!!! Que falta me faziam para fazer fosse o que fosse. E continuam a fazer. 

Não me arrependo nada de ter iniciado e o esforço tem sido largamente compensado. Ao fim de cerca de 1 semana, os "calores" nas costas desapareceram e deixei de acordar inchada. Posso dizer que neste momento, os sintomas regrediram todos. Perdi o peso que ganhei com o jejum, perdi mais volume ainda, a pele deixou de estar tão seca e sinto-me muito bem. Sempre tive muita dificuldade em perder peso, porque além destas duas amigas para a vida, também tenho hipotiroidismo. E a verdade é que estou a sentir-me "esvaziar", no bom sentido.

O protocolo pressupõe ter uma duração mínima de 3 ou 4 semanas ou até à regressão dos sintomas. E não é uma restrição para a vida. É como o Whole 30, depois de tudo estabilizado o melhor possível, procede-se à reintrodução regrada dos alimentos retirados (sempre dentro do contexto alimentar paleo) e aí percebermos quais os alimentos que nos são prejudiciais. Tinha lido que a maior parte das pessoas que aderem ao protocolo que não sentem necessidade de voltar ao que comiam antes e eu não percebia porquê, mas percebo agora. Medo! O medo de voltar a ter dores e mal-estar e tudituditudo. Tenho presente que quero reiniciar a reintrodução mas honestamente não sei quando, nem sinto pressa. 

Saliento de novo que não pretendo converter ninguém a fazer seja o que for, estou apenas a relatar o meu percurso e a explanar a razão que ME levou ao protocolo, e não, não foi por moda ou mania. Quis simplesmente ser pro-activa pela minha saúde e perceber o que posso melhorar para ter mais qualidade de vida. Há cerca de 1 ano que não faço qualquer medicação para as doenças que tenho e assim pretendo manter-me enquanto puder. 

Se custa não comer determinados alimentos? Claro que custa, sobretudo quando tenho uma não-paleo em casa, mas custa muito mais ter dores e não saber porque as tenho. Cada corpo é um corpo e o que resulta para uns, não resulta para outros. É preciso ler, estudar, ponderar e decidir o melhor possível. E isso ainda se torna mais essencial quando temos doenças crónicas e/ou auto-imunes. Mas mais uma vez ressalvo que, nem todas as auto-imunes reagem da mesma forma, assim como a mesma doença não se manifesta de forma igual em todos os indivíduos e isso só se aprende com o tempo, com a leitura e com o conhecimento gradual do nosso corpo.

"O futuro é construído pelas nossas decisões diárias, inconstantes e mutáveis, e cada evento influencia os outros" - Alvin Toffler

7 de maio de 2017

Ovos - porque não integram o Protocolo Paleo Auto-imune

"O ovo é um dos alimentos mais alergénicos, que afecta aproximadamente 2-3% da população. No entanto, as pessoas ainda são surpreendidas quando menciono uma receita isenta de ovos ou que eu não posso comer ovos. Não é por ser alérgica, mas sim porque tenho uma doença auto-imune e os ovos são excluídos no protocolo auto-imune. Uma vez que os ovos são um alimento tão importante para quem pratica paleo (como parte do pequeno almoço, como uma proteína acessível, e como ingrediente presente na grande maioria das receitas paleo), questionam-me frequentemente porque razão não fazem parte do protocolo.

Uma das principais funções da clara do ovo é proteger a gema contra o ataque microbiano enquanto o embrião cresce, usando enzimas proteolíticas (ou proteases), enzimas que podem fragmentar proteínas em cadeias mais curtas de aminoácidos (normalmente tornando essas proteínas inactivas / inúteis no processo). Existem muitos tipos diferentes de enzimas proteolíticas, todas eles altamente especializadas para fragmentar um tipo específico de proteína e / ou num local específico. Em particular, as enzimas proteolíticas nas claras de ovos são exímias na clivagem de proteínas nas membranas celulares de certas bactérias (especificamente bactérias gram-negativas). A protease específica na clara de ovo com a qual pessoas com doença auto-imune (ou alergias graves ou intestino permeável) devem preocupar-se, chama-se lisozima.

Eu costumava usar lisozima no laboratório de biologia para quebrar as membranas de bactérias (bactérias que eu tinha criado para desenvolver cadeias de ADN). A lisozima, é característica das membranas bacterianas, activa-se rapidamente, é muito resistente ao calor e é estável em ambientes muito ácidos (por essa razão ainda fica activa mesmo depois de cozinhar bem os ovos bem e da sua digestão!) O ser humano também produz lisozima como parte dos nossos mecanismos normais de defesa contra infecções bacterianas. Está presente na nossa saliva, lágrimas e muco (incluindo nas camadas de muco nos intestinos). Então, se produzimos a nossa própria lisozima, por que é que a lisozima presente na clara de ovo, nos pode ser prejudicial?

A lisozima tem a capacidade de formar cadeias fortes com outras proteínas. Assim, a lisozima da clara de ovo normalmente passa através do nosso sistema digestivo em grandes cadeias com outras proteínas de clara de ovo. Muitas das proteínas presentes nas claras de ovo são inibidores de protease.

Isto significa que os complexos de proteína lisozima / proteína de ovo são resistentes à digestão pelas nossas enzimas digestivas (que são elas próprias proteases). Pode questionar-se se a lisozima ainda está activa sendo uma protease e se está ligada aos inibidores da protease de clara de ovo. A resposta é sim, ele ainda está activa. Os inibidores da protease de clara de ovo que são mais susceptíveis de estarem ligados à lisozima são a ovomucina e a ovastatina, que são inibidores da tripsina (a tripsina é uma das nossas principais enzimas digestivas) e a cistatina. Nenhum destes inibidores inibe a actividade da lisozima. À medida que o complexo de lisozima viaja através das vilosidades no nosso intestino, também pode ligar proteínas bacterianas a partir das bactérias normalmente nelas presentes (como a gram-negativa E.coli).

A lisozima possui uma propriedade química invulgar (mantém uma carga positiva) que lhe permite atravessar os enterócitos por atracção electrostática. As pesquisas confirmam que a lisozima consumida entra na circulação mesmo em indivíduos saudáveis ​​(mesmo em conjunto com outros alimentos, embora a quantidade seja menor). A absorção da lisozima pura de clara de ovo por si só em circulação, provavelmente não é problemática porque a lisozima é uma enzima que o corpo produz naturalmente (a menos que seja absorvida em concentrações muito altas e, em seguida, pode causar danos nos rins). O problema são as outras proteínas que se agarram à lisozima através da barreira intestinal. É esta "fuga" de outras proteínas da clara de ovo, a razão pela qual a alergia ao ovo é tão comum. Quaisquer outras proteínas presentes no trato digestivo podem potencialmente ligar-se ao complexo de lisozima e através do intestino, passam para a corrente sanguínea (ou linfa). Acredita-se que estas proteínas estranhas contribuem para uma resposta de mimetismo molecular onde o corpo, na sua tentativa de formar anticorpos contra estes invasores estrangeiros, cria acidentalmente um anticorpo que também reconhece uma proteína normal no corpo humano.

É também importante salientar que a capacidade da lisozima de atravessar a barreira intestinal (transportando com ela proteínas potencialmente imunogénicas) não seja assim tão significativa . Em indivíduos normais e saudáveis, a lisozima não é susceptível de causar danos significativos ao revestimento saudável do intestino ou causar uma resposta imunitária substancial (embora o efeito da lisozima seja o motivo pelo qual o Prof. Loren Cordain recomenda limitar os ovos a 6 por semana). Em indivíduos saudáveis, os ovos de galinhas de pasto podem ser uma fonte excelente e acessível de proteína, ácidos graxos ómega-3, luteína, zeaxantina, colina, selénio, fósforo, vitamina A, vitamina D e vitaminas B. No entanto, em situações de doença auto-imune, os indivíduos são mais sensíveis e tendem a ter respostas imunes e inflamatórias exageradas a proteínas estranhas na circulação. Estes indivíduos são também mais propensos a formar auto-anticorpos em resposta a proteínas bacterianas que podem entrar na circulação com lisozima.

Note-se que esta discussão estava inteiramente relacionada com proteínas de clara de ovo. As gemas de ovo não são susceptíveis de causar estas questões. No entanto, se estiver a seguir o protocolo auto-imune, e se já estiver na fase da reintrodução, recomenda-se algum cuidado no consumo da gema, uma vez que esta provoca uma sensibilidade mais acentuada em indivíduos com intestino permeável (não é a mesma coisa do que ser alérgico a eles). Deve-se evitar o ovo completo quando iniciar o protocolo auto-imune. Mas, de todos os alimentos que são restritos neste protocolo, as gemas são as mais susceptíveis de serem toleradas e muitas pessoas podem adicioná-los de volta à sua rotina alimentar."

Fonte: https://www.thepaleomom.com/whys-behind-autoimmune-protocol-eggs/

6 de maio de 2017

Álcool, doenças auto-imunes e protocolo

O álcool não faz parte do protocolo paleo para auto-imunes. Claro que inicialmente, e para quem gosta de beber de vez em quando um copinho "terapêutico", acaba por sentir que lhes tiram todos os prazeres da vida. A primeira reflexão que se faz é que, já não basta retirar todos os lacticínios, cereais, grãos, depois suprimem-se os ovos, os frutos secos, os nightshades (ver aqui), sementes, café e cacau....e ainda vou ter que retirar o vinho!? Mas não dizem que um copo de vinho de vez em quando até é bom?

O consumo moderado de álcool (e não apenas de vinho tinto) parece proporcionar diversos benefícios para a saúde: promove a redução do risco de doenças cardiovasculares, reduz o risco de desenvolver diabetes tipo II, ajuda na prevenção da doença de Alzheimer e pode até mesmo reduzir o risco de alguns tipos de cancro. (Não se anime muito com a parte de prevenção de cancro ... pois mesmo o consumo moderado pode desencadear outro tipo de cancros). Embora o álcool não seja tecnicamente paleo, há evidências de que o homem pré-histórico teria ingerido fruta fermentada e provavelmente teria até ficado com um grão na asa de vez em quando. Quase todas as versões da dieta paleo toleram o consumo baixo ou moderado de álcool (geralmente restrito a álcool isentos de glúten, principalmente vinho e bebidas espirituosas), incluindo Loren Cordain e Robb Wolf. É um prazer neolítico que a maioria das pessoas seguindo uma dieta paleo ainda pode desfrutar.

Assim, com todas as pesquisas que suportam que o consumo moderado de álcool (especialmente vinho) é saudável, por que é então um problema para aqueles com doença auto-imune? Mais uma vez, resume-se ao facto de que aqueles com doença auto-imune têm sistemas mais sensíveis e enfrentam mais desafios para curar um intestino irritável, do que outros.


Por outro lado, é amplamente reconhecido que o consumo de álcool causa danos ao pâncreas, fígado e outros órgãos, mas também tem uma variedade de efeitos sobre as defesas naturais. Por exemplo, o álcool reduz a tosse e a depuração dos seus pulmões, o que aumenta o risco de pneumonia, bronquite e outras condições respiratórias. O álcool também suprime os mediadores inflamatórios que ajudam a combater a infecção, tornando essas infecções mais prováveis. A resposta do sistema imunológico é afectada de várias formas pelo consumo de álcool - incluindo contribuições para a imunodeficiência e, possivelmente, auto-imunidade - às vezes resultando numa função imune alterada e inflamação crónica, ambas características da doença auto-imune.


O consumo de álcool provoca directamente um aumento na permeabilidade intestinal - O álcool interfere directamente nas paredes intestinais provocando pequenos orifícios na barreira protectora do intestino. É importante referir que esses "buracos" que o álcool provoca na barreira epitelial do intestino são suficientemente grandes para permitir que algumas moléculas, nomeadamente as endotoxinas, passem para o interior do corpo. A endotoxina é uma proteína tóxica derivada das paredes celulares de bactérias gram-negativas, como E. Coli, que vivem nas nossas entranhas (geralmente no intestino grosso, mas muitas vezes no intestino delgado em pessoas com doença auto-imune). À medida que estas bactérias morrem (como parte do seu ciclo de vida normal), a endotoxina é libertada. Se entrar na corrente sanguínea, estimula a inflamação sistémica, estimula o sistema imunológico e danifica o fígado.

Normalmente, a maioria das bactérias que crescem em nossas entranhas são bactérias gram-positivas (embora a presença de algumas bactérias gram-negativas seja normal). O que significa gram-negativo e gram-positivo? Isto refere-se a uma técnica de coloração que diferencia entre estas duas classes principais de bactérias. Basicamente, as bactérias gram-negativas têm membranas / paredes celulares mais complexas e estas tendem a ser patogénicas (ou seja, causam doença). E. coli é um exemplo de uma bactéria gram-negativa. Lactobacillus (o probiótico encontrado em suplementos, iogurte e legumes fermentados) é um exemplo de bactérias gram-positivas. O busílis aqui é que o consumo de álcool alimenta bactérias gram-negativas como E. coli para criar um aumento anómalo destas bactérias mais tóxicas o que leva ao excesso de produção de endotoxina no intestino. O consumo excessivo de álcool também está correlacionado com o aumento de bactérias gram-negativas no trato digestivo superior, ou seja, no duodeno e, por vezes, até mesmo no estômago.

Assim, o álcool aumenta a produção de endotoxina dentro do intestino e aumenta a permeabilidade intestinal à endotoxina. Outra toxina que é produzida por bactérias gram-negativas e gram-positivas é chamada peptidoglicano (outro componente da parede celular que é libertado no intestino quando as bactérias morrem). Há evidências de que o álcool aumenta a permeabilidade ao peptidoglicano e que esta toxina é muito eficaz para estimular o sistema imunológico e causar inflamação.

Mesmo pequenas quantidades de álcool podem danificar o revestimento do intestino provocando danos na mucosa no intestino delgado superior com perda de epitélio nas extremidades das vilosidades intestinais e erosões hemorrágicas. Se isso pareceu muito grave, é porque é mesmo. É semelhante ao dano causado pelo glúten em doentes celíacos.

A maior parte da compreensão actual da relação entre o consumo de álcool e aumento da permeabilidade intestinal, vem de estudos de consumo crónico de álcool. Mas, há estudos para mostrar que esse dano ocorre mesmo de uma única bebida. Bebedores ocasionais, não danificam tanto os seus intestinos, porque ao não consumir tanta quantidade de álcool ao mesmo tempo, também dão mais tempo aos seus intestinos de recuperar.

E nos doentes auto-imunes? Se sofre de doença auto-imune, é portador de uma quantidade de genes que o torna mais susceptível ao desenvolvimento de um intestino permeável e de ter uma reação imune exagerada a determinadas substâncias. Isto significa que qualquer coisa que aumenta a permeabilidade intestinal deve ser evitada.

Além disso, o consumo de álcool afecta directamente seu sistema imunológico. As células imunes especializadas, chamadas células assassinas naturais, têm eficácia reduzida quando o álcool está na corrente sanguínea, e as células T também se tornam disfuncionais. São produzidas menos células B, embora a sua produção de anticorpos possa ser aumentada, e os anticorpos circulantes em bebedores pesados ​​têm sido supostamente ligados a condições auto-imunes.

Verificou-se que o metabolismo do etanol cria "neo-antígenos", que se ligam às proteínas normais do corpo e desencadeiam as células imunes ao ataque, levando alguns a acreditar que o fígado alcoólico e a doença pancreática podem ser fenómenos parcialmente auto-imunes. Há muitos relatos de taxas aumentadas de erupções auto-imunes com o consumo de álcool, especialmente no que diz respeito ao lúpus e artrite, embora nenhuma pesquisa humana séria esteja sendo conduzida.

Pesquisas em animais sugerem que algumas formas de álcool podem desencadear aumento da produção de alguns tipos de células imunes, conhecidas como células T reguladoras que ajudam a proteger o corpo contra um sistema imunológico hiperativo, incluindo o observado em doenças auto-imunes. Esta descoberta traz potenciais implicações para o tratamento de doenças auto-imunes, incluindo artrite reumatóide e diabetes tipo 1, embora muito mais pesquisa sobre as pessoas seja necessária antes de quaisquer recomendações sejam feitas. Portanto, o consumo de bebidas alcoólicas não é recomendado neste momento como um método eficaz de aumentar a atividade das células reguladoras e combater a doença auto-imune.

Assim, se está a cumprir o protocolo auto-imune com rigor, é provável que possa tolerar uma bebida ocasional (certifique-se de não consumir qualquer álcool à base de grãos, sobretudo cerveja e cerveja que contêm glúten). Chris Kresser coloca o limite em um copo de vinho de 150ml duas vezes por semana (ou quantidade equivalente de álcool mais pesado que não seja derivado de grãos como o rum, tequila, xerez, conhaque ou aguardente). No entanto, é aconselhado a evitar todo o álcool até que comece a ver algum resultado no protocolo auto-imune e que sinta a total (ou quase) regressão dos sintomas.

As reações ao álcool são extremamente variadas e estão relacionadas à quantidade e ao tipo de álcool consumido, bem como ao sexo, tamanho, peso e etnia. Algumas pessoas com reumatóide e outros tipos de artrite, por exemplo, relatam sentir mais dor e rigidez nas articulações dentro de uma hora de beber um copo de vinho ou outra bebida alcoólica . Mas esses relatórios são bastante variáveis.

O grande problema aqui é o álcool propriamente dito, o que significa que se cozinhar com vinho ou bebidas alcoólicas (onde o álcool é eliminado no processo de cozimento) é aceitável. Mas com uma advertência: algumas pessoas podem ser sensíveis ao conteúdo de levedura do vinho (o fermento utilizado na fermentação do vinho pode manifestar presença de glúten através de contaminação cruzada) ou aos sulfitos encontrados no vinho.

O álcool não traz nada de bom a sujeitos com intestino permeável e doença auto-imune. Mas uma vez que o seu corpo esteja recuperado, uma bebida ocasional é tolerada, assim como cozinhar com álcool. No entanto, mais uma vez, é preciso conhecer o seu corpo e aperceber-se dos seus limites. Dependendo da condição em questão, o teor de etanol pode ser o responsável por provocar uma crise ou agravamento do quadro clínico, por isso o melhor é mesmo deixar o copito para ocasiões mesmo muito especiais.
Fonte: https://www.thepaleomom.com/the-whys-behind-the-autoimmune-protocol-alcohol/
            http://www.autoimmunemom.com/diet/effects-alcohol-autoimmune-conditions.html

1 de maio de 2017

Fibromialgia, dor crónica e meditação

Há uns tempos, sempre que ouvia falar em meditação, vinham-me à mente imagens com pessoas em estado de transe, num ambiente com incensos e música indiana. Redutor, eu sei, mas era o que eu pensava. Por outro lado, achava que as pessoas que praticavam meditação, eram pessoas muito zen, muito "peace and love" e que viam a vida com outros olhos (sim, vi muitos filmes). E quando alguém me falava em meditação, nem deixava falar, dizendo logo que não era para mim, que eu era demasiado eléctrica para conseguir fazer meditação...e pior, achava que ainda me iria fazer mal (ok, agora podem rir!)

Mas, quis o destino...e o diagnóstico de Fibromialgia que a minha visão das coisas e do mundo mudasse radicalmente. Acredito que nada acontece por acaso (preciso mesmo acreditar nisso) e por sugestão da minha reumatologista, consultei uma terapeuta de psicomotricidade (ver aqui), que me ajudou a abrir a mente e a pensar além da doença. Sempre fui uma pessoa positiva, mas como toda a gente que recebe um diagnóstico de doença crónica, há dias em que andamos mais apreensivos. Com a minha terapeuta, aprendi que é possível haver uma co-existência minimamente equilibrada entre mim e a "dita". 

Desde o princípio ela percebeu que eu era de personalidade forte (outros dirão que é mau feitio!) e que era preciso ir com calma, pois eu era de ideias feitas. Meditação, relaxamento e blablabla, não era para mim. Até que ela me pediu para deitar na cadeira (semelhante à do dentista, mas só mesmo na parte confortável) e me tapou com uma manta começou a pedir para eu fechar os olhos e visualizar na minha mente determinadas situações que ela me ia pedindo. A voz suave que me mandava respirar muito lenta mas profundamente, a música tranquila (de sons de água porque eu tinha-lhe dito que adorava o mar), a luz ténue na sala e a minha vontade de esquecer por uns momentos as dores e deixar de me focar nelas, fizeram com que eu "me deixasse" levar. E só dei conta quando no fim da sessão, ela me chamou de volta à realidade e eu me apercebi que durante aquele tempo em que me libertei, deixei de sentir dor, la-estar, desconforto, tudo. Só sentia leveza, nada de dor, nada de calor na nuca, nada de rigidez, nada...Achei aquilo tão estranho. Como era possível aquilo ter acontecido? A mim? Logo a mim, que não acredito em nada disto. Sempre fui como S. Tomé e preciso de ver (ou que me aconteça) para crer.

A terapeuta explicou-me que o que tinhamos feito, eram exercícios mentais de relaxamento profundo. Tal como a meditação, ao desviarmos o nosso foco daquilo que nos incomoda (neste caso, a dor, o mal-estar e tudituditudo) conseguimos fazer com que a nossa mente se sobreponha aquilo que sentimos fisicamente.

Percebi que TALVEZ, devesse dar uma oportunidade à coisa e aprofundar um pouco mais. Certo é que aquele bem-estar se prolongou ainda durante umas horas. Não era impressão minha, não era sugestão, que eu não sou nada sugestionável, mas a verdade é que me sentia bem.

Por sugestão dela, comecei a ler mais sobre meditação guiada e apercebi-me que realmente a meditação traz imensos benefícios na nossa saúde. Entre eles:

  • Maior equilibrio emocional 
  • Maior serenidade 
  • Por reduzir o stress, tem efeitos anti-inflamatórios
  • Reduz a pressão arterial
  • Estimula o sistema imunológico
  • Melhora a qualidade dos sono
  • Aumenta a capacidade de processamento cerebral
  • Entre outros...

Por ter um temperamento inconformado, andei a pesquisar pelo You Tube e encontrei alguns links com exercícios (curtos,.. que eu não tinha tempo para perder).

E dia após dia, fui fazendo e acreditem que nos sentimos diferentes. Nunca fui uma pessoa rancorosa mas era mutio impulsiva. Com o tempo, aprendi a relativizar as coisas, aprendi a conviver com a minha "amiga" de forma nem sempre equilibrada, pois às vezes tenho que a deixar levar a dela avante...mas por pouco tempo!

Às vezes perguntam-me como consigo andar sempre bem disposta, mesmo tendo dores. Bem, algumas pessoas não acreditam sequer que eu possa estar doente, mas dessas não vamos falar. Mas o facto é que passei a aceitar melhor aquilo que eu não posso mudar. E a focar-me mais naquilo que eu consigo fazer e naquilo que consigo desfrutar. O resto, é o resto...

Mesmo com a filha em casa, eu pego muitas vezes no telemóvel e nos fones e digo-lhe para não me ir incomodar ao quarto até eu voltar. Diminuo a intensidade da luz no quarto, ponho os meus fones, e sentada confortavelmente na cama (para mim, é estar bem recostada desde a cabeça até à lombar e com uma almofada debaixo dos joelhos) escolho um vídeo e deixo-me ir. Acreditem que se eu consigo resultados, EU, a ultra-céptica, qualquer pessoa consegue.

Houve alturas em que tinha dificuldade em desligar o cérebro na altura de adormecer. Tinha sono, os olhos caíam de sono, mas o cérebro não desligava. E cheguei a adormecer com meditação guiada.

Deixo aqui alguns links, mas podem procurar outros. O You Tube está repleto de vídeos com as mais variadas aplicações e objectivos, basta escolherem aquilo que pretendem. Não sei explicar porquê, nem a minha terapeuta soube explicar, relaxo muito mais com vídeos com voz de homem, e nem todas as vozes me conseguem "desligar". Quando assim é, passo para outro.

Em inglês:
Acreditem que resulta, se estivermos dispostos a isso e a sair da nossa zona de conforto. E a vantagem é que pode ser feito em casa, na praia, no comboio, desde que tenha um tempinho e tiver forma de se "desligar" um bocadinho. Quando eu não tinha muito tempo, fazia um exercício curtinho (5 minutos) chamado coerência cardíaca. O link é este:
Já falei muitas vezes disto, e em momentos de crise ou quando começo a sentir "aquele" calor na nuca a querer espalhar-se para o resto do corpo, recorro a este exercício em S.O.S. e faz maravilhas. São 5 minutos a controlar a respiração, só isso.

Em dias em que me sinto mais ansiosa sem razão aparente, ou quando sinto os meus pensamentos mais soltos, e não me consigo concentrar, basta-me tirar uns minutos para mim e fico muito mais tranquila. Até a minha filha já diz, quando me vê mais inquieta e que eu não estou bem de maneira nenhuma (conhecem a sensação, certo?), "mamã porque não vais um cadinho para o quarto fazer aquilo que tu fazes?" e a verdade é que vou mesmo e nunca me arrependo.

Não pretendo converter ninguém com isto, mas acho que devemos todos dar uma oportunidade a terapias diferentes, que não têm efeitos secundários e que só nos trazem benefícios. E antes que digam que convosco não resulta, que não conseguem desligar-se, que isto ou aquilo (sim, também dizia o mesmo, por isso sei do que falo), tentem, dêem uma oportunidade mas de espírito aberto. Porque a vida vai muito além da dor e da doença. E é possível no meio de tudo o que passamos, haver um tempo e um espaço para cuidarmos do mais importante: do nosso "EU"!